imagens, registros e reflexões sobre a versão em HQ de "As Barbas do Imperador" de Lília Moritz Schwarcz

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Lei dos 20% de Quadrinho Nacional - minha opinião

Querido Papai Noel, neste Natal eu quero ganhar uma Lei que gere emprego e renda para todos os quadrinhistas do Brasil.Tambem queria uma ACB forte que mobilizasse e unificasse a categoria permanentemente.De quebra, eu queria que a categoria fosse mais unida e menos individualista.Será que é pedir muito, Papai Noel?… (mensagem de Márcio Baraldi na revista eletrônica O Grito / Papo de Quadrinho)

Participei neste sábado 04/02/2012 do debate sobre o PROJETO DE LEI Nº 6.060-A, DE 2009, parte do evento 28º Prêmio Ângelo Agostini, organizado pela Associação dos Quadrinhistas e Caricaturistas do Estado de São Paulo (AQC-ESP) e que aconteceu no auditório do Instituto Cervantes, em São Paulo.
A lei determina que toda editora que publicar quadrinhos, do conjunto de publicações, 20% no mínimo deverá ser nacional (essa cota será atingida gradualmente em seis anos).
Além disso, alude vagamente a ações que o poder público fará para desenvolver o segmento:

...implementará medidas de apoio e incentivo à produção de histórias em quadrinhos nacionais, tais como, estimular a leitura em sala de aula, e promover eventos e encontros de difusão do mercado editorial de histórias com quadros em sequência voltadas para o público infanto-juvenil.
Art. 6º Os bancos e as agências de fomento federais estabelecerão programas específicos para apoio e financiamento à produção de publicações em quadrinhos de origem nacional, por empresa brasileira, na forma da regulamentação.

De autoria do deputado Vicentinho (PT/SP) e tendo como relator o deputado Rui Costa (PT/BA), a lei dos 20% está praticamente aprovada. Dependerá do aval da presidenta (PT/RS), não vejo nada que possa atrapalhar seu caminho vitorioso, e o cumprimento - da parte restritiva ao editor - não custará nada ao governo. Basta estipular a porcentagem e fiscalizar. A outra parte da lei, o que o governo se obriga a fazer (artigos 5 e 6), é naturalmente expressa em termos imprecisos e sem agentes definidos, e portanto, inverificáveis.

O jornalista Jota Silvestre, organizador do debate, me convidou para debater do lado dos "contra". Junto comigo, o editor Guilherme Kroll, cuja editora (Balão) só publica nacionais, porque gosta e quer publicar nacionais. Sua posição é admirável, porque ele não defende sua própria situação: a lei não lhe causaria nenhum problema, já que ele não quer - por enquanto - publicar HQ estrangeira. Ele avalia a justiça ou injustiça da lei se colocando mentalmente na situação de outros possíveis editores, o que é uma atitude muito rara em nosso meio (o normal é a pessoa pensar em benefício próprio ou do seu grupo).

Guilherme Kroll  - Sou contra imposições governamentais, quaisquer que sejam elas, na linha editorial de um veículo de imprensa (editora). A Balão até hoje só publicou autores nacionais, mas não o fizemos por obrigação, e sim porque gostamos dos projetos. A obrigatoriedade, ao meu ver, seria ruim. (...) Obrigar um veículo de imprensa a publicar algo que não faz parte da sua linha eu acho inaceitável, sejam quadrinhos, sejam clássicos, sejam receitas de bolo. Imagine uma editora estrangeira que pretenda abrir uma filial no Brasil com o único objetivo de publicar quadrinhos do país dela, uma editora japonesa, por exemplo. Qual é a lógica dela ser obrigada a publicar 20% de material brasileiro? Ao meu ver, isso é retrógrado e impositivo. Sou a favor de todos os incentivos possíveis, mas determinar o que alguém vai publicar ou deixar de publicar é f*. (depoimento a Jota Silvestre na revista O Grito / Papo de Quadrinho).
Do outro lado, JAL (presidente da AQC-ESP) e Márcio Baraldi, dois notórios faladores. JAL tem bastante desenvoltura no mundo político-institucional, é cartunista e assessor de imprensa, naturalmente tem um discurso mais técnico e repleto de dados, arredondado há décadas de militância quadrinhística; Baraldi, quadrinhista-camelô-cineasta (*) extrovertido, quando dispara sua metralhadora retórica sindicalista/mano da periferia consegue ocupar com sons todos os espaços.
(*cineasta - exibiu parte do seu documentário sobre o mestre de HQ Rodolfo Zalla, "Ao Mestre com Carinho", feito com surpreendente delicadeza).

Para enfrentá-los ou pelo menos conseguir uma brecha para dar o meu recado, precisei preparar com cuidado meu discurso. Se fosse uma exposição do tipo mesa redonda, eu teria falado durante uns 20 minutos. Mas o Jota preferiu um formato mais dinâmico, e creio que isto foi conseguido :)

Não faltaram insinuações de que eu era "neo-liberal", ou que devo parte da venda dos meus livros a projetos de incentivo do governo (uau, que revelação bombástica!). Sim, acho que deixei clara a diferença entre "incentivo" e "camisa de força" na minha fala (eufemisticamente chamada pelos defensores da lei como "regras", ainda que unilateralmente expostas).
Não sou nem liberal, nem neo (acho que não sou "neo" em coisa nenhuma :). O liberalismo é uma utopia, jamais existiu um mercado 100% livre de interferência do governo - até porque o governo, mesmo em um sistema relativamente liberal, é um grande comprador e devedor, portanto um grande agente econômico. Devemos defender, isto sim, princípios justos em si mesmos, e uma convivência democrática entre interesses antagônicos, e zelar para que jamais um poder se torne muito mais poderoso que os demais e os oprima.
Se quiserem me rotular mais adequadamente, sugiro "anti-fascista", que não cobre tudo o que me define, mas ajuda a entender alguns dos meus posicionamentos.

Vou postar aqui a minha "colinha" de argumentos, não cheguei a usar todos.
Desenvolvi sete linhas argumentativas, e as pessoas que fizeram meu curso de arquétipos na Quanta poderão reconhecer a inspiração planetária invertida (de Saturno a Lua), também como recurso mnemônico.
Sim, este comentário ficou estranho, mas alguns poucos entenderão.
 
1) DEFESA DO PRINCÍPIO GERAL DA LIBERDADE DE ESCOLHA
É um apelo para que as pessoas pensem, em primeiro lugar, no direito de expressão e de escolha do ser humano e do cidadão, e não apenas no benefício que a lei trará a um segmento em detrimento da liberdade de outro. Não posso defender uma lei injusta, mesmo que não me atinja.
Isto exige um mínimo de abstração, para sair de sua situação imediata e mediar nos direitos e deveres do homem, acima das necessidades do grupo profissional.
Devemos defender a escolha livre e responsável em geral, tanto a do artista em escolher livremente sua profissão (quem o obrigou a ser quadrinhista?), como a do editor em definir sua linha editorial como bem entender (e estar sujeito a sucessos e fracassos em virtude de suas escolhas).

2) ALERTA CONTRA O NACIONALISMO E O CONTROLE ESTATAL DO CONTEÚDOVejo nesta lei um germe de nacionalismos mais radicais no futuro, em que algumas HQs serão consideradas mais brasileiras que outras - nesta lei já se menciona isso, com relação a projetos subvencionados (§1º Na seleção dos projetos, será dada preferência àqueles de temática relacionada com a cultura brasileira).
Os desenhistas que curtem super-heróis nacionais, como meu amigo Eduardo Manzano, poderão ter uma surpresa um dia, se uma comissão de estudos decretar que "super-herói" é um formato imperialista e que um quadrinho brasileiro autêntico só pode ter anti-heróis. A ver...

3) CRÍTICA DA LUTA CLASSISTA; A FORÇA NÃO ESTÁ NA UNIÃO, MAS NO ESFORÇO PESSOAL PARA DOMINAR UMA ARTE
Os defensores da lei alegam que o desenhista nacional não pode, sozinho, enfrentar a invasão do quadrinho americano, imperialista, com seu marketing poderoso e milionário. Então a solução seria unir os desenhistas fracos e impotentes para, unidos, mostrar a sua força. Esta força, porém, é superficial e exterior - vem de uma ligação política, que não aumenta nem diminui a qualidade do artista. A força do artista, na verdade, se desenvolve na batalha solitária para adquirir maestria na sua arte - é o esforço, a persistência, que dão fibra ao quadrinhista e enchem o seu peito de coragem, não a participação nominal em um sindicato. Ele deve ser mais exigente de si mesmo do que o mercado, o mercado só exige dele os padrões de qualidade moderno; o desenhista de quadrinhos deve medir seu desenvolvimento comparando-se aos grandes mestres do passado, e lutar para ser digno deles, não do mercado, que segue a moda e os gostos cada vez mais toscos da massa (vide BBB).
Uma vez que a pessoa consegue ter dentro de si padrões muito melhores do que a exigência profissional mediana, se desenvolverá acima da média e estará, naturalmente, em condições muito melhores de oferecer e negociar o seu trabalho, sem precisar da muleta das associações políticas e leis protecionistas.

4) ELOGIO AO MÉRITO INDIVIDUAL E ORGULHO PROFISSIONAL
Este tópico nasce naturalmente do anterior. Hoje em dia o valor do mérito pessoal está esquecido.
É muito melhor ter "chegado lá" por seus próprios meios, do que ter sido beneficiado por uma lei de cotas. Faz falta aquele sentimento de orgulho, de dignidade própria, de conseguir vencer sem recolher a esmolas e atalhos. Ou ser derrotado dignamente, perder e sacudir a poeira faz parte da vida. Mas como ensinar este sentimento? Ele parece morto, no Brasil de hoje, viciado pelo Estado-babá.
Precisamos lembra de Luiz Gonzaga, naquela música que diz que a esmola vicia o cidadão; ou o velho Sinatra: quando o fim estiver próximo, será muito mais emocionante poder cantar "I did it my waaaaay!"

5) A UNIÃO ARTISTA-EDITOR DEVE SER LIVRE DE CONSTRANGIMENTO EXTERNOÉ como um casamento, uma união complementar que pode ser loga e feliz. Ora, esta união não pode começar com uma obrigação imposta por lei; isto é semelhante a um casamento à indiana, combinado com os pais da noiva... O "sim" só vale se a noiva for livre para dizer "não". E essas "discussões sobre o mercado de quadrinhos" começam com uma enorme desconfiança em relação ao editor, minando desde cedo um possível bom relacionamento. O autor deve seduzir o editor; conhecer sua linha editorial e tornando-se atraente para ele. "Lutar" (se por lutar se entende pedir ao Poder Público que lute em seu lugar) é um péssimo começo.

6) AUTOR E EDITOR: AMBOS SÃO COMERCIANTES, AMBOS SÃO CRIADORESÉ comum dizer: o editor quer fazer dinheiro, o artista quer viver do seu trabalho... Há um preconceito, uma pecha de "capitalista" no editor que permeia esses debates. Ora, o editor não pode estar nesse negócio se não for um bom leitor e fã de quadrinhos. Procure um editor que fale a sua linguagem. Por sua vez, aprenda com ele as demandas que ele tem que atender para produzir e distribuir o gibi ou o livro em HQ: procure tornar-se um pouco editor, ver o mercado como ele vê.
Os quadrinho-sindicalistas falam muito em mercado, mas em termos financeiros, numéricos e impessoais; o editor tem uma visão mais diversificada, realista e humana. Seu negócio exige a satisfação de numerosos públicos, interação física com os fatores industriais, conhecimento de arte e design, faro comercial e habilidades promocionais. Ou o artista capta um pouco disso, e se torna co-editor de seu editor, ou que passe a admirar e respeitar a complexidade do trabalho de seu parceiro.

7)  O EDITOR COMO AMIGO, MEDIADOR, PROTETOR E PARTEIRO O autor, para realizar-se, precisa do editor (mesmo que resolva se editar, precisa criar um editor em si mesmo, como fazia Marcatti, mas o ideal é que seja um outro). Precisa de uma relação de confiança mútua, um precisa apostar no outro. O editor protege o artista do confronto direto com o mercado, com o mundo às vezes rude da indústria gráfica, contra certas armadilhas da mídia e da exposição pública. Ajuda sua obra a nascer.

Faço votos de que meus colegas quadrinhistas um dia conquistem um relacionamento longo e próspero com um editor amigo e de confiança, o que tem mais chance de acontecer depois que se dedicarem, com garra e sinceridade, a conquistar a si mesmos e os segredos da sua arte.

44 comentários:

  1. Postei o link do seu texto nas redes sociais. Espero que nossos caros colegas possam exercitar, talvez adquirir, uma capacidade maior de discernimento, por meio das suas ponderações. Um grande abraço, Spacca.

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  2. Bem legal Spaccatutto. Como fez o Érico, aqui em cima, vou passar essa discussão pra frente também. Abraço

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  3. Ótimo texto, Spacca.
    Concordo com você em todos os pontos.
    Abraço grande.

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  4. Havia um quadro no programa de humor que uma loira (Kate Lyra - atriz que era norte-americana naturalizado no Brasil) que dizia: "Brasileiro é muito bonzinho." Isso é verdade!

    Nos EUA ele protegem seus produto. Protegeram no passado e protegem hoje (protecionismo). O Japão protege seu produto (protecionismo). A Itália fez o mesmo. A Argentina, mesmo em uma ditadura (mas os outros países não tiveram ditadura, para ninguém falar que foi por conta dela), fez também.

    Aí quando o Brasil tem chance de por uma lei de proteção ao profissional brasileiro. Aí falamos de: Isso é uma imposição. "Coitado dos estrangeiros (ninguém falou mas é o que dá a entender"

    Do mesmo jeito que a inflação era uma cultura de aumentar preços quando aumentava salário e combustível. A falta de incentivo aos quadrinhos é uma cultura da republicadoras (não chamem de editoras) de não publicar os quadrinhos nacionais. Aí tem que acabar com essa cultura. Depois eles verem que vende bem. Como foi o caso de Holly Avangers, que fez um enorme sucesso. Investimento nacional.

    É falta de qualidade? É preço muito alto? Nada disso. O segundo caso pode ser negociado.

    O Brasileiro é muito bonzinho. É não é porque a loira era paquerada, mas pelas conotações políticas do programa de humor da época. E vejo que continuamos do mesmo jeito.

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    1. Depende. Brasileiro foi muito bonzinho em abrigar o terrorista Cesare Battisti, e muito mauzinho mandando de volta aqueles atletas cubanos que queriam asilo...
      "Brasil" ou "brasileiro" é só um nome coletivo, como "ilustrador" e "editor".

      Mas posso dizer que é um vício brasileiro coletivo usar palavras vagas como "proteção" para ações muito diferentes como incentivar, estimular, impor, obrigar e proibir. A Máfia também vende "proteção"...

      Há editoras que são republicadoras, e pior até, picaretas mesmo. E há editoras que não são. Outro vício brasileiro é tratar o melhor pela lei do pior - como no trânsito, na Receita etc.

      Eu julgo e defendo PESSOAS. Não nacionalidades, não categorias profissionais inteiras. Só assim, mesmo identificando vicios e manias brasileiras coletivas - a mania de confiar mais numa lei do que no próprio taco, o vício de esperar tudo do governo etc - eu posso reconhecer grupos e pessoas que conseguem escapar dessa linha de pensamento.

      O pensamento coletivo é preconceituoso, xenófobo e protecionista no pior sentido - no sentido de abrigar as pessoas que abdicam da responsabilidade individual e querem procurar um bode espiatório, no caso dos quadrinhistas é a figura maligna do "editor" e do "quadrinho estrangeiro" - entenda-se americano. O coletivo pratica a injustiça em bloco, para não sentir culpa.

      O pensamento coletivo é covarde, e joga a culpa da crise e do fracasso no "judeu", no "estrangeiro", no "imperialismo americano", na "cultura machista" etc. e quer a proteção de um líder ou partido pleno de poderes. Como reverter este pensamento coletivo, ou identificar seus vícios e preconceitos, se todos os salões de humor repetem e premiam seus chavões? Se, em todas as esferas públicas, só se procura um "explorado" e um "explorador" que nunca é o grupo em que estamos?

      Esta é a cultura dominante nas nossas "discussões" de Pensamento Único. Só há dois caminhos: aderir ao que todo mundo ensina e concorda, ou por si próprio buscar padrões mais elevados de profissionalismo e dignidade. Temos que ser "bons" não como o brasileiro "bonzinho" da Kate Lyra, mas "bonzões", bondade ativa, macha, de ser bom na profissão, bom nas escolhas morais, bom em assumir responsabilidade pelas escolhas, bom para combater os maus.
      abs,sp

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  5. O texto acima eu escrevi, mas saiu sem meu nome.

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  6. Amigo Spacca.
    Para mim, o ponto crucial em toda essa bagunça toca na questão do momento. Que importa a SUA opinião? Que importa a MINHA opinião?
    Ainda que sejam iguais, elas estão sendo expostas no momento errado.
    Não me importo em ser "voto vencido". Desde que, de fato, tenha sido vencido!
    A tal lei está na boca do gol. Pronta para receber o autógrafo da nossa presidentE.
    Pergunto:
    1. QUEM, QUANDO e COMO foram feitos debates "amplos" a respeito do assunto?
    2. Uma cerimônia eminentemente festiva como a 28º Angelo Agostini é forum para tal debate?
    3. Sendo esse último debate o único em plenário e presencial, acrescido do momento crítico em que a lei está praticamente aprovada, não fica o gosto de manobra de bastidores para excluir os contrários?
    4. Desde quando bate-boca (ou bate tecla) se caracteriza como discussão de categoria?
    Quero reforçar: minha opinião, apesar de ser como a sua, pode muito bem ser dada como vencida. Mas baixo a guarda e cumprimento os vencedores se houvessemos lutado em condições de igualdade. Posso, inclusive, ser convencido de estar errado. Mas permitam-me exercer o direito de expressão. Se não pude livremente expressar minha opinião no que tange a tal lei, que dirá de exercer minha AINDA NÃO RECONHECIDA profissão?
    Apesar dos graves e urgentes problemas de nossa nação, imploro ao Poder Executivo que, diante do insustentável porém massacrante apoio a lei de "incentivo" ao quadrinho, lance um olhar respeitoso à nossa área e reenvie o projeto de lei para:
    1. Ser reavaliado pela Comissão de Constituição e Justiça.
    2. Seja amplamente discutido em fóruns IMPARCIAIS incluindo representantes VERDADEIROS dos editores, autores e, se possível, leitores (quem sabe escolas, bibliotecas, livrarias etc).
    Minha OPINIÃO pode não ser a correta, mas jamais abrirei mão de meu direito em discutí-la com clareza, transparência e decência.

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    1. caríssimo Marcatti,
      sim, concordamos.
      se nossa opinião importa?
      Em termos de eficácia, se temos poder para mudar as coisas ou não, não, não importa nada mesmo. A lei é vencedora, e mesmo se essa não emplacar, há centenas de leis e costumes em vigor que apóiam a mesma coisa: ficar pendurado no Estado Babá ou fazer o possível para também mandar nos outros por meio dele.

      Não, o debate no AA não é um fórum -não tivemos poder paar influenciar, aprovar ou desaprovar nada. A lei segue os caminhos oficiais, e será aprovada na medida em que segue o espírito geral, a vontade da maioria (que não tem nada a ver com justiça, a maioria pode oprimir legalmente uma minoria) e mesmo de editores grandes que, afinal são comerciantes, aceitam a imposição de qualquer governo, seja Médici, FHC ou Lula.

      Esta discussão, ou melhor, nosso esperneio, foi só uma conversa paralela, um meio de dar alguma publicidade entre nossos pares de que há outras formas de pensar, fora do quadro comum anti-imperialista, "o quadrinho americano chega a preço de banana" e blá blá blá, que escutamos há mais de 3 décadas das mesmas pessoas.

      Eu não imploro ao Poder Executivo coisa nenhuma. Uma opinião - no nosso caso uma opinião bem construída, baseada mais na consciência dos nossos erros e acertos do que na cartilha das associações - é certa, e continuará certa, mesmo se a maioria pensar o contrário e se votasse contra a nossa, se fosse caso de votação. Uma idéia verdadeira, uma noção clara de justiça, NÃO PODE SER NUNCA VENCIDA PELO NÚMERO. Se UMA pessoa estiver certa, não é a existência de 100 ou mil pessoas pensando torto que vai tornar a opinião errada certa, e a certa errada.

      Esta lei tem conteúdo autoritário tanto presente como latente (há um controle de conteúdo nacionalista embutido nela que pode crescer nas aplicações), e, no entanto, segue o ritual democrático formal (proposta por deputado, votada por representantes do povo etc).

      Há outras leis que nem passam por isso, são decretos que a gente simplesmente teve que engolir. Um exemplo tucano: a lei da Cidade Limpa - você não é mais dono da fachada do seu estabelecimento. Um exemplo do governo do PT: a Reforma ortoggráfica - você não é mais dono da sua língua (bem, ninguém é, mas muito menos quem sancionou e os linguistas vendidos que lavaram as mãos, e que devem ter enchido os bolsos com cursos de atualização e traduções). Autoritarismo não se restringe a partidos, nem sistemas.

      De forma que não é o processo que vai definir a qualidade da lei, mas a justiça contida nela. O melhor sistema é o que cria as melhores condições de debate e avaliação das propostas - e é isso que você está exigindo. (continua)

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    2. (continuação)


      Quando a manobra de bastidores é a forma profissional de fazer as leis e aprová-las, não tem muito o que fazer, não.

      Não estou esperneando para tentar brecar esta lei em particular, nem vou comemorar se ela não for aprovada (pois depois vem outra, e outra, e outra e aprovam). Não é o resultado útil que me importa (são as consequencias funestas que eu temo).

      Mas, quem sabe, externando esta nossa opinião do contra, outras pessoas que vêem da mesma forma ponham a cabeça pra fora e assim a gente se reconhece. Este quadro mental restrito em que vivemos não durará para sempre, mas é persistente. Ele premia a incompetência e a falta de coragem, e por isso é um modelo muito atraente e demagógico, acomoda mesmo.

      Mesmo assim, tem muita gente com "cojones" por aí, que justamente por isso - dignidade pessoal e profissional - não se apóia em associações. A SIB para mim não é muleta, é ponto de encontro para rever e fazer amigos. Não lutarei por nada que beneficie os "ilustradores" em geral, e que acarrete em ver editores e outros parceiros como inimigos. Querem associar-se? Sim, mas por afinidade de valores, gostos afins, por admirar os mesmos mestres e influências, para ajudar-se mutuamente, por amizade enfim. Não associar-me pagar as minhas contas e resolver minha vida.

      Vou finalizar o espírito desta minha "defesa dos direitos do editor" (que não são do editor, são os nossos, são os direitos básicos de todo mundo) falando da nossa amizade; fomos vizinhos e somos amigos; não convivemos, mas nos respeitamos. Acho seu quadrinho super talentoso, admiro tua garra, mas a maior parte do que você faz acho inaceitável, como leitor. É mais podre do que eu posso suportar, e poderia gastar muitas linhas dizendo o que acho errado nele (e no Mutarelli, e no Grampá etc). Mas, se um dia quiserem te censurar, vou defender publicamente o seu direito de fazer a HQ do jeito que quiser e procurar seu público, tanto quanto o direito do leitor de te escolher ou recusar.

      abração, sp

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    3. Marcatti, vc tem razão em algumas coisas:
      - Não, nossas opiniões não importam de fato.
      - Sim, deveriamos ter criado espaços para discussão mais profunda sobre a Lei.
      Quanto as suas perguntas:

      - Resposta 1:
      Em 20/07/11, postamos a Lei dos 20%
      http://aqcsp.blogspot.com/2011/07/porjeto-de-lei-n-6060-2009-para.html
      Em 26/07, postamos mais detalhes, opiniões e pedimos participação:
      http://aqcsp.blogspot.com/2011/07/o-que-falam-da-lei-dos-20-de-quadrinho.html
      Em 09/08 o Blog da AQC começou a postar posições (Edgar Guimarães) sobre a Lei:
      http://aqcsp.blogspot.com/2011/08/analise-do-projeto-de-lei-do-deputado.html
      Rafael Grampa twitou a noticia da Lei (link de 2009).
      Em 03/11, artigo de Paulo Ramos fala no assunto:
      http://blogdosquadrinhos.blog.uol.com.br/arch2011-11-01_2011-11-30.html#2011_11-03_21_31_59-135059040-28
      "Uma discussão recorrente ganhou corpo nesta quinta-feira na rede social Twitter. O pontapé para o debate foi dado pelo desenhista Rafael Grampá e rapidamente se espalhou.
      Grampá reproduzia um link para reportagem do "Diário do Vale" de 2 de dezembro de 2009. O texto trazia como título "Cida aprova reserva de mercado para quadrinhos".
      Contexto: a pessoa em questão é a ex-deputada federal Cida Diogo (PT-RJ), então relatora da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara.
      A matéria fazia referência a parecer favorável dela, emitido em 18 de novembro daquele ano, sobre a criação de uma cota mínima de 20% para quadrinhos nacionais.
      Pelo texto, a implementação seria gradativa. Cinco por cento no primeiro ano, 10% no segundo, 15% no terceiro até chegar aos almejados 20% mínimos no quarto ano.
      Não há informação sobre o trâmite seguinte do projeto de lei 6.060-A, de autoria do deputado reeleito Vicentinho (PT-SP). Sabe-se que neste ano se iniciou nova gestão eleita.
      De qualquer forma, é pertinente o debate, qualquer que seja o resultado. Sintetizando em uma perguta: é mesmo necessária a criação de uma reserva de mercado nacional às HQs?
      O debate no Twitter envolveu autores, leitores e criadores. A maior parte se posicionou de forma contrário à cota. Também compartilho desse opinião."

      Em 12/12, Paulo Ramos nos reposiciona sobre a Lei
      http://blogdosquadrinhos.blog.uol.com.br/arch2011-12-01_2011-12-31.html#2011_12-12_11_47_47-135059040-25

      Em 16/12, Jota Silvestre organiza o debate pedindo opiniões pro', contra, ou em duvida:
      http://revistaogrito.com/papodequadrinho/2011/12/16/a-nova-lei-dos-quadrinhos-na-opiniao-dos-profissionais/

      O tempo todo, noticiamos e pedimos a opinião dos quadrinhistas e leitores pelo Blog da AQC e pelas listas de discussão na web e redes sociais.
      http://aqcsp.blogspot.com/
      E' pouco, concordo. Deveriamos ter convocado assembleias da AQC, ACB, SIB para discutir o assunto.

      - Resposta 2: Sim. A festa de premiação e' um bom momento para debater. Porque não seria? Ja' fizemos outros debates na entrega do AA e foram OK. O problema foi a falta de tempo para o Debate.

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    4. - Resposta 3: Manobra? De quem? Minha? Do Worney? Do Jota Silvestre? Do Baraldi (veja o apelo dele pra turma entrar na discussão)?
      http://aqcsp.blogspot.com/2011/11/apelo-do-marcio-baraldi.html
      Do Rui Costa (não o jornalista e candidato do PCO, o nosso velho conhecido da Causa Operaria)? Manobra do PT? Não... o Vicentinho ja' havia colocado uma Lei sobre Animação
      http://reformapsiquiatrica.wordpress.com/2011/03/27/projeto-de-lei-cria-mercado-para-animacao-nacional/
      em discussão no Congresso em 03/11 e o Rui Costa pediu para que enviassemos nossas opinões.
      Sim, os deputados vão votar isso a nossa revelia, afinal não conseguimos nem ter uma posição final sobre o assunto, apesar deles pedirem nossa participação:
      fernanmoretti@gmail.com
      (Jornalista e cartunista)
      "Projeto de Lei 6060/2009 - Câmara dos Deputados
      Pessoal, o Worney recebeu essa correspondência do gabinete do deputado Vicentinho, sobre a Lei (em PDF, no anexo) de Cota de 20% de Quadrinho Nacional para editoras.
      Leiam, discutam e enviem suas opiniões para o e-mail do Worney, vamos ver o que a categoria acha do assunto..."
      http://aqcsp.blogspot.com/2011/12/lei-dos-20-de-quadrinho-nacional-o.html

      - Resposta 4: Eu não achei que foi bate-boca. Vc achou, Spacca? Quanto a bate-tecla ser debate, em epocas em que as pessoas se encontram mais pelo facebook do que na vida real, eu diria que e' sim.

      - Ponto 1: não sei se da' pra ser reavaliado pela Comissão de Constituição e Justiça. O Jal talvez saiba.
      -Ponto2: o forum criado pelo Jota Silvestre (que não defende a Lei) no Trofeu AA foi IMPARCIAL. Vc poderia (e ainda pode) ter se posicionado nos diversos foruns pela web (inclusive no Blog da AQC), apesar de vc achar que e' "bate-tecla". Pelo menos a sua opinião (que respeito) seria conhecida.

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  7. Sou a favor da Lei, ponto. Mas os acertos cujos pontes deixam brechas para outras interpretações serão sanadas no decorrer do tempo. O que não podemos é ficar nessa inexistência dos quadrinhos nacionais.
    Também disseminei, desde ontem, para redes sociais que faço parte, a fim de saber a opinião de todos.

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  8. Spacca, postei seu texto no Blog da AQC!
    Muito bom, como comentou o Erico e o Juniao.
    E, mesmo sendo a favor da Lei, foi muito saudavel ouvir as opinioes tuas e do Kroll sobr eo assunto. So' um detalhe a corrigir na tua colocação: o Battisti foi condenado na Italia, sem julgamento, e julgado culpado em assassinatos baseado no relato de outro preso, membro das Brigadas Vermelhas, que queria receber o indulto por delação. A Imprensa brasileira, rasa como sempre foi, costuma esconder esses detalhes que mudam completamente a historia. Como no caso dos atletas cubanos... Lei ao texto de Gilson Caroni Filho "O nocaute dos “deportados”:
    Entrevistado em Miami, Lara declarou que ele e Guillermo, após terem sido abandonados por uma empresa alemã, decidiram voltar para Cuba."Nós decidimos retornar, não foi pelo governo brasileiro nem por ninguém, já que as coisas deram errado, nós decidimos voltar".
    http://jornaldedebates.uol.com.br/debate/governo-agiu-corretamente-ao-deportar-os-atletas-c/artigo/nocaute-dos-deportados/13127
    Irmão Spacca, conheça a verdade e ela te libertara'!

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  9. Bira, o jornalista que vc menciona escreveu um artigo com este título: "José Dirceu - por que o ódio da imprensa?" hahahaha...
    Não duvido que o Granma, o le Monde Diplomatique ou o Brasil de Fato tenham historinhas na ponta da língua para justificar a inocência do terrorista italiano ou o desejo espontâneo dos cubanos de voltar à Ilha, claro que sem nenhum ameaça às suas famílias, como inventam os cubanos traidores que vivem em Miami :)
    Depois que você aprender a chamar uma ditadura de 50 anos de "ditadura", volte a falar de verdade comigo; se não, vamos nos limitar a gaita, Uderzo, Briquet e outras lembranças e amenidades...
    abraço grande, sp

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  10. Eita, esse e' outro Spacca, e não aquele que conversei ontem na festa da HQMix.
    Vamos la': eu não preciso aprender a chamar o regime cubano de ditadura, porque e' exatamente isso que e', e como sempre chamei. Nunca neguei e nunca negaria o obvio. Sou petista mas não sou petralha (e nem idiota como aquele imbecil da veja que inventou essa pexa).

    Agora que ja' passamos desse ponto, espero que vc responda a minha colocação (que não baseei em Le Monde ou Granma, que so' li o primeiro exemplar ha 1 semana que uma vizinha trouxe de la'), mas sim em uma boa e completa reportagem da TV Cultura, que os comentaristas (tucanalhas) do Jornal da Cultura teimam em esquecer, na hora de descer o sarrafo no Lula, no Battisti, etc. Quanto ao Gilson Caroni, eu passei o link da materia sobre os cubanos (que vc não leu so' porque achou um texto dele defendendo o Ze', e ai' ja' saiu julgando). Nessa materia ele não defende o governo Lula, e coloca os cubanos falando com a propria voz, que tal ler isso?

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  11. não, não quero nem vou ler o artigo do Caroni de Pau que você recomendou.
    Pois, para julgar, analisar, procurar os furos, demonstrar onde estão os erros e oferecer outra versão, e mostrar o que apóia o ponto de vista contrário... isto daria um trabalho formidável, daria um artigo monstro, quase uma tese, e não ia te convencer em nada! - porque você acha que eu formo minha opinião lendo a Veja. Pelo contrário, baseado em outras leituras e estudos, é que julgo se o Reinaldo Azevedo está falando coisa certa ou não.

    Não sou fã do Reinaldo, esse universo da política brasileira do dia-a-dia é muito chato. Mas tudo o que eu li dele, achei certo e os oponentes eram histéricos e estavam errados, e queriam só vencer e ocupar espaço, e não conhecer. Não estavam discutindo, queriam desesperadamente calar a voz dicordante. Discusão petista é só entre comadres, por exemplo, frei Betto e Marlena Chauí discutindo fé e razão...

    Bira, você pessoalmente é amiguinho e cheio de amor pra dar, mas o universo político que você respira é o oposto disso.

    Você diz que procura se distinguir do petralhas; Petralha é um bom trocadilho com "Irmãos Metralha", não tem nada a ver com canalha - basta mudar uma letra, P x M. Mas esse nome, apesar de ser um bom achado, tem o defeito de impugnar aos petistas apenas a acusação dinheirista de meter a mão, de ser corrupto igual á "direita". E esta acusação é bobagem, é fichinha. Ora, a acusação mais grave não é essa, é a de achar que está do lado certo da História e que do outro lado, só tem reaças e exploradores...

    O problema das esquerdas é justamente a parte que dizem ser a boa - o chamado idealismo ou desejo de um Mundo melhor. Tanto Lenin como Hitler tentaram fabricar um mundo melhor, como os lunáticos que explodem gente por suas causas também. Não se pode passar um cheque em branco para os idealistas - quem são eles para decidir como será o mundo? desde a Revolução Francesa, as tentativas de fabricar uma nova sociedade, nova religião, nova cultura etc só deram em sangue e merda...

    Se você, nominalmente, admite chamar o regime cubano de Ditadura, já é um progresso e fico feliz em ler isto; então, se eu disser que Lula e Dilma são amigos de ditadores, por favor não fique bravo comigo, vou guardar sua declaração para esfregar no seu narizinho qualquer dia.

    E sou testemunha que a única gaita que te seduz é a que toca.

    abs
    sp

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  12. Huahauhahahauahahahaahha
    Eu não chamaria minha "nappa" de narizinho. Mas vc não precisa guardar nada pra esfregar em lugar nenhum. Quer dizer, o nada e' seu e vc pode esfregar no lugar que achar melhor (teve alguma boa ideia? -rs).
    Quanto ao universo politico que respiro(amos) não ser bonzinho e etc...
    Cara, essa humanidade e' de uma crueldade sem limites e não e' de hoje, nem de Lenin, Hitler ou Revolução francesa. Sempre foi assim. Quando o primeiro hominideo matou outro para sobreviver, ja' era assim. Quando a primeira noção de propriedade privada se desenvolveu (quer fosse pela mulher, quer pela caverna, comida ou fogo) a coisa so' piorou. Infelizmente esse e' o mundo de m(...) que nos reservaram (ou que escolhemos, vai saber?). Vc se ataca muito achando que os outros (quem seriam?) te chamam de neo-isso, neo-aquilo, leitor de veja e de reinaldim azevedu ou dioguim mainardia. Eu nunca disse e nem acho isso, e se for, o que eu teria a ver com isso? Vc e' um pusta profissional do humor, do quadrinho, que admiro pracalareo e pra mim basta. Não vou nem criticar suas leituras. Se alguem achar boris casoy o bam-bam-bam do jornalismo, de que adiantaria minha opinião preconceituosa, não e' mesmo?
    Muita paz!!!!!!!!!!!!!!!

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  13. Bira, essa é outra cascata, das muitas que nos ensinaram.
    Que "humanidade cruel" é essa de que vc fala?
    Nós, eu e você, somos de outro planeta? Em quantas pessoas você já bateu na vida?...
    Estão todos errados, Hobbes, Maquiavel, e aquele barbudo que inventou a exploração do homem pelo homem. O amor não precisa ser inventado pelos comunistas, assassinos cheios de ternura: ele existe, desde que os partidos não encham o saco.
    Não precisamos de vocês! Não precisamos de petistas, tucanos, ecochatos e de outras bestas que querem salvar o planeta e a humanidade. De salvadores do planeta e reinventores do homem o inferno está abarrotado.

    Mas precisamos, sim, de gente que denuncie os picaretas barulhentos e antidemocráticos que ocupam o palanque para instalar a falsa discussão entre comadres.

    Eu e você, uma vez, lutamos contra a democracia de partido único que havia na AQC, lembra? O Laerte disse "vocês nos apunhalaram pelas costas", e saiu pisando duro, ficou de mal de nós duas décadas. Os cartunistas da diretoria - do partidão - saíram indignados. Nós, os petistas, vencemos por W.O. e fizemos uma administração de merda. Isso foi em 85.
    Eu, depois, fiquei com muita raiva de ter participado disso, mas foi, confesso, uma raiva hipócrita - o principal motivo foi ter perdido a chance de convívio com os mestres Laerte, Caruso etc. Lamentei anos isso.

    Depois, com o tempo, mudei de opinião. Ei, estávamos
    certos! Aquela chapa única era ditatorial mesmo. Nós, na nossa inocência de novatos, identificamos corretamente o autoritarismo dos mais velhos. Eram jornalistas cuecões, eram autoritários sim - não eram como nós, petistas novatos, ainda fora do poder, e portanto, como o guri da fábula, gritamos "o rei está nu" ou "os cartunistas de esquerda também podem ser ditadores"... (continua)

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  14. (continuação)

    A lógica estava conosco. Se a gente "lutava" contra a ditadura e queria eleições democráticas, por que não na AQC?

    Minha pergunta sobre o Fidel tem o mesmo fundamento. A gente não queria ditadura - por que uma ditadura pode e a outra não? Por que Fidel é melhor que Pinochet? Se o que faz uma ditadura ser odiosa são justamente os presos políticos (Cuba já chegou a ter mais de 100 mil de uma vez), opressão, policiamento do cidadão comum, censura, eleições falsas, tortura, violação dos direitos humanos e civis... por que um partido brasileiros pode ser comunista, estalinista, maoísta e tudo bem?

    É disso o que eu não esqueci, e que se constituiu para mim em um problema. A resposta que você encontrou foi aceitar a resposta dos outros petistas e esquerdistas (por exemplo, Cuba é assim por causa da vizinhança com os EUA, do embargo etc).
    O problema como formulei foi: "por que os cartunistas, artistas da MPB, professores e jornalistas em que confiei me ensinaram a odiar uma ditadura, a democracia burguesa, os EUA e o capitalismo, mas a admirar e comemorar a revolução russa, cubana etc e a fazer vista grossa para suas respectivas atrocidades, até piores do que as de Hitler?"

    Quando a Folha chamou a Ditadura brasileira de "Ditabranda", a esquerdaiada chiou, odiou. Ora, quem usa a palavra "ditador" de um jeito para se referir a Fidel e de outro para se referir a Pinochet, deve ter duas concepções de ditadura mesmo, como a Folha. Você não disse isso, não estou rebatendo o que você disse, estou exemplificando com os lugares comuns que sempre ouvimos.

    Eu continuo aquele cara da AQC, melhorado em certos aspectos, mas que ainda consegue ver autoritarismo na esquerda, o que hoje parece ser proibido. Criticar, digamos, os ecologistas ou mesmo o escãndalo do banheiro nos coloca, segundo alguns, do mesmo lado que o Bolsonaro.

    Por isso o esperneio, tanto em relação à lei profundamente autoritária que já ganhou, para voltar ao tema deste post, e em relação a tantas outras vozes pseudodemocráticas que ocupam a mídia, os debates e ainda se fazem de vítimas.

    Não desejo paz a você: desejo, sim, mais consciência, crise de valores, coragem para romper com a influência alienante da esquerda, equilíbrio interior, novos amigos, amor, saúde e felicidade.
    E muita paz depois da luta...
    abração, sp

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  15. Clap! Clap! Clap!
    Cara, estou contigo e não abro. Assino embaixo de tudo.
    Passei pelas mesmas crises. A Thais tinha 9 anos quando soube dessa briga com o Laerte (de quem ela e' fã do trabalho). Ficou triste.
    Pensei como vc. Penso ainda. Defendo muita coisa do que vc fala ser da "esquerda autoritaria" não por achar que "fins justificam meios", mas por ver que classe D e E subiram pra C. Que crianças que morreriam de fome ha' 15 anos atras, tem uma perspectiva de vida. Talvez seja pouco, piegas ou careta, mas sou assim...
    Nos seus desejos finais, faltou um: dinheiro. Afinal, vivemos num pais capitalista e livro e' muito caro aqui, infelizmente.

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    1. ah, sim, dinheiro também.
      o que seria dos livreiros, editores e donos de sebo sem a sua bibliofilia? :)
      abraços
      sp

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  16. Bira ao Marcatti:
    Resposta 4: Eu não achei que (o debate) foi bate-boca. Vc achou, Spacca?

    Não, não foi. Quero dizer, não perdi nenhum amigo naquele tarde...

    Foi bate-boca só no sentido da superficialidade, quero dizer: não foi análise ou estudo porque não dá pra ser, naquele espaço e com pouco tempo. E também nos esforçamos para não ser um debate chato :)

    Não tínhamos nenhum poder, não era votação, nem responsabilidade. A lei segue seu curso apoiada em outras forças e procedimentos alheias à nossa opinião e influência.

    Serviu só para lembrar que o apoio da "catiguria" não era unânime, nada mais...
    abs
    sp

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  17. E diria mais: em quase todos os foruns que participei a maioria dos quadrinhistas era contra a Lei. Eu, apesar de "a favor", sempre quis saber: porque 20% e não 18, 15 ou 50%? Como chegaram a esse numero?
    Quanto a superficialidade, a gente so' sairia dela se tivesse uns 2 dias para debater. Se pudesse perguntar mais, entender mais... Ficaria mais chato, como vc sugeriu, mas seria mais... profundo. E a gente teria ouvido amigos como o Marcatti e outros que sequer falaram ou teclaram. Eu ouvi a do Marcatti. Poucos ouviram...

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    1. Bira e Spacca, obrigado pela oportunidade dessa leitura.
      Abraços.
      ~M

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  18. Valeu, amigos.
    Abraços.
    ~M

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  19. Marcatti, eu que agradeço e pediria um depoimento seu pro Blog da AQC.
    Nao importa a posição que a gente defenda, o que importa e' como defendemos.
    O Spacca e vc são dois caras inteligentes, isso ja' e' motivo pra eu prestar atenção no que vcs dizem. Eu sou meio burrinho e tacanho, por isso presto atenção mesmo.
    Por isso, se vc puder esclarecer a sua posição por inteiro (inclusive depois de ver todos os links que te passei), envie-me por e-mail que eu publico no site! Outro detalhe importante e' a vinda do coreano Jin woo choi pro Brasil. Entrem no Blog da AQC e levem paginas de HQ ou cartuns para ele, na HQmix no sabado ou na Comix na terça... Abracos

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  20. Este comentário foi removido pelo autor.

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  21. Excelente texto Spacca. Consegui ver alguém com maior destaque do que eu usando os argumentos que eu tanto queria tornar público.

    Eu sinceramente sempre vejo tais medidas como uma espécie de asfaltamento de esgoto. Você tapa o problema mas a merda ainda corre solta. Nosso país tem uma educação medíocre, em todos os sentidos. Se não sabemos direito ler um texto, muito menos sabemos ler imagem. Com isso, o mais sedutor, moralmente agradável e consensual impera. Então nossos políticos, sabiamente, sabendo que não oferecerem educação prum povo que não se reconhece, inventa, na marra, uma maneira de se conhecerem. Isso nunca vai acontecer. Haverá rejeição e com o tempo uma padronização da produção cultural nacional em nome daquilo que tem alguma entrada. Basta ver as tvs abertas com sua produção nacional : elas são todas iguais.

    No mais amigos, em defesa da leitura, fica o convite pra que conheçam meu blog http://quadrinhosnasarjeta.blogspot.com/

    Acho que antes da gente decidir o caráter da obra, deveríamos pensar a qualidade da leitura.

    Abraços. Linck.

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  22. obrigado, Linck. O buraco realmente é mais embaixo.
    Ou, quem sabe, em cima?... Acho que vivemos em um queijo suíço...
    abração, sp

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    1. Inspirado no debate que você começou teci meus próprios comentários a respeito. Espero que possa ler. Abraços.

      http://quadrinhosnasarjeta.blogspot.com/2012/03/o-apocalipse-dos-integrados_07.html

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  23. obrigado pelo link, Linck. :)
    concordamos acidentalmente no caso da lei - em que você vê, com razão, uma tentativa de impor ao povo brasileiro uma identidade cultural feita do "mais do mesmo"; defendo, como você, que o consumidor de arte rejeite livremente o que não goste.

    Porém, os leitores e espectadores não "fazem" a arte que chega a eles. Podem ser ativos em vários sentidos: no comercial (como quando o cineasta utiliza as fórmulas e clichês consagrados e, portanto, segue o gosto estatístico do público); no sentido de não serem receptores passivos e utilizarem a cultura comum como chave decifradora da arte; de serem falantes da mesma língua, portanto, tanto artista como público manipulam um código que não foram eles que inventaram nem atribuíram significado, enfim, em muitos sentidos, o artista segue o público, tanto quando quer sua aprovação, como quando quer chocá-lo (pois não poderia chocar se não soubesse do que ele gosta e não gosta).

    Dito isto, preciso dizer que, apesar de tudo isto, identificamos facilmente o artista como quem apresenta a obra ao público, e este o que recebe. Isto não faz do público o artista nem vice-versa. Nem é arte toda comunicação - quando o público aplaude a peça de teatro, ele não se converteu em dramaturgo... Se embolamos as duas artista e leitor totalmente, perdemos de vista o fenômeno que queremos entender. Podemos dizer que ele faz uma leitura ativa, se quiser, mas isso não "cria" o que ele acaba de tomar conhecimento depois que o artista criou...

    Devo acrescentar também que considero arte somente aquela capaz de ser lida sem perder o referencial do senso comum.

    Arte para mim é arte com a minúsculo, arte tradicional e servil, para decorar, embelezar objetos e ambientes, expressar os sentimentos e a natureza humana e conhecer a realidade. Neste imenso balaio coloco os arquitetos, os pintores de ânforas, calígrafos, copistas medievais, os pintores de retratos e paisagens da renascença em diante, os gravuristas da era da imprensa, os coreógrafos, os autores e atores teatrais, os criadores de moda, os designers, os artistas que fazem desenho animado, e tantas outras. Enfim, arte como profissão.

    Excluo: os escritores de manifesto, os fundadores de escola, os pseudo-rebeldes supervalorizados da arte moderna. Dadá, Warhol, Duchamp - bleargh. Cuspt. Neles e nos professores da FAAP que me ensinaram a "explorar conceitualmente o universo do artista" e outras picaretagens. Aprendi a me virar muito bem nesse meio; mas não considerei honesto, dominar e usar uma língua que meu pai, meu vizinho não eram capazes de acompanhar numa visita à Bienal (ecaaa). Por isso fiz questão de desaprender o "artistiquês".

    Defendo: o direito do leigo dizer "não entendi" e "isto é uam porcaria e meu filho sabe fazer melhor". Quase sempre ele está certo.

    abraços,sp

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  24. Spacca, Marcatti e Linck, entendo o ponto de vista de voces. Mas acho que o ponto principal nessa discussão e': se eu faço uma HQ eu devo receber por ela. "X" por pagina.
    Remuneração, grana, bufunfa! Essa proposta de pagar o nosso trabalho com "royalties" so' vale pra Ziraldo e Paulo Coelho que numa semana vendem 500 mil exemplares.
    Estranho que esse ponto "remuneração" nunca entre nos debates, nem nos posicionamentos.
    Se a gente tem que entender "o lado" do editor e saber que o mercado e' voluvel, a edição da HQ pode ser um tiro n'agua. Mas tem o NOSSO lado. A gente tem que viver e pagar contas... Assim como o editor tem que pagar tradutores, copy-desks (ah a sua reforma gramatica esta' com 2 "Ms"), diagramador, secretaria, equipe, grafica, etc...
    Alguns quadrinhistas (não estou citando ninguem) podem se dar ao luxo de fazer um album maravilhoso e receber os 10% de Royalties 6 meses depois. Isso envolve meses de dedicação quase exclusiva. Muita gente não pode. Eu nao posso.
    Eu nao posso parar de fazer charges que pagam mes a mes, pra fazer uma HQ de 80 paginas e receber 6 meses depois. Por isso, encaixo as HQs da Escala (que me paga R$ 120,00 por pagina, ALEM dos 10%) entre os meus projetos e trabalhos semanais. Acabo sendo lento demais, porque a Escala so' paga quando entrego o livro. Mas eles pagam TUDO. E depois ainda pagam os 10%. E olha, que meu Dom Quixote vendeu 70 mil exemplares na primeira impressão, ja' teve a segunda impressão e estão a preparar a segunda edição. Se uma editora media não pode pagar o que a Escala paga, devia ao menos fazer uma proposta honrosa, ao contrario de oferecer pagar os 10% de uma tiragem de 3 mil, 5 mil exemplares...
    Por isso, o melhor momento do Debate no Angelo Agostini foi quando o Jal disse que o mais importante era discutir Mercado de Quadrinhos no Brasil.
    Pra mim, discutir Mercado começa por discutir remuneração. Depois vem o resto.

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  25. Ué, se você coloca Mercado (com letra maiúscula) e remuneração como o item mais importante a discutir, e chama de "resto" as importante considerações sobre a justiça ou injustiça da lei, se está oprimindo ou não o editor, se é uma lei autoritária ou não é... é uma escolha sua, e mostra que você está pouco se lixando para "o resto". Mas para mim "o resto" é importante.

    Não entendo como você bateu palma pra mim posts atrás... é que você não me leu direito.

    Minha posição é frontalmente oposta à sua. E se você apóia essa lei, você quer que outras pessoas percam a liberdade para você garantir a sua, e isso é indecente. Cansei de me repetir, mas já que você não quis me ler ou ouvir, vai de novo: não vou apoiar uma lei que impeça editores de exercer sua livre e responsável escolha, assim como não quero que impeçam a minha liberdade.

    Ou para ser mais claro ainda: não faça para os outros aquilo que não quer que façam a você.
    Faz clap clap agora...

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  26. A minha colocação sobre PAGAMENTO e' anterior a Clap-clap-clap, anterior a discussão da Lei. Não tem nada a ver com a Lei. Tem a ver com Relações de Trabalho. Eu faço, o editor me paga, ele publica.
    Para ser mais direto: Eu pago bem minha empregada todo o mes. Não falo pra ela que vou pagar 10% do que ela render, 6 meses depois. Sabe, Spacca, as vezes acho que vc não se sente do lado de ca'. Se sente do lado de la'. OK! Isso não e' ser neo-liberal, ser liberal ou liberado. Vc acha que os EDITORES tem que se dar bem. OK, entendi!
    NNao to fazendo mais clap-clap-clap, to fazendo e' um dedo medio em riste pra vc. Era isso que vc queria? Depois fala que eu que sou xiita. Olha quem ta' promovendo a luta de classes aqui!!!!!!!!!

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  27. "uuui, coitadinho de mim, sou um pobre quadrinhista brasileiro que precisa pagar as contas, por favor, dona Dilma, senhores parlamentares, façam uma lei para obrigar os malvados editores a me contratar, buááá, buááá... me protege, dona Dilma, os malvados editores brasileiros só compram quadrinho gringo, me protege, buááá, buááá..."

    ah, toma vergonha na cara... aos 50 anos ainda tá pedindo proteção contra o patrão malvadinho? e ainda quer cobrar "proposta honrosa" de editor? comece por ser honrado como desenhista e como profissional adulto. "ai, me protege, cria uma lei pra mim... sou vítima dos quadrinhistas estrangeiros..." Que choradeira pusilânime. Pára com isso...

    ou então vai trabalhar de empregada doméstica, pra receber todo mês...

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  28. Spacca, tem coisa que realmente ou vc quer fazer de conta que não entende (ai' vou te olhar como um hipocrita), ou não entende mesmo (ai' e' melhor se tratar): eu ganho bem, não trabalho de graça, recebo pela minha produção alem dos royalties, não preciso me sentir "coitadinho" porque não sou isso. Nem preciso tomar vergonha na cara. Quem devia tomar vergonha na cara são os editores que falam para dezenas de colegas nossos: "Que tal, vc quadrinhista, trabalhar de graça pra mim, que vou te pagar 7% (essa novidade eu soube pelo Marcatti) depois que vender?"
    Eu me levanto contra esse tipo de coisa, Spacca. Se vc recebe pela produção ou não, seria legal vc falar sobre isso (como eu falei), ou vc tem contrato de silencio com os AMIGOS EDITORES? Isso ajudaria na discussão. Como e' o contrato em cada editora? Quais oferecem os mixurucas 10% (ou 7%)? Quantas são dignas a ponto de remunerar seus colaboradores de uma forma DECENTE? Saiba que esse descaso e' a realidade com amioria de nossos colegas (e amigos). Eu não estou aqui pedindo pra "Dona Dilma ou senhores parlamentares", eu boto meu preço e quem quer meu trabalho paga. Não preciso de ninguem pra me proteger. E fico PUTO de ver que a categoria e' tratada dessa maneira. Contra isso eu me levanto, meu caro. E se vc ficar ai' defendendo os editores, mostra bem oq ue e'... Isso não se chama neo-liberalismo. Se chama PELEGUISMO! E mostra que vc realmente escolhe bem os seus "amiguinhos".
    Realmente estamos de lados opostos.

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  29. Obrigado por vir ao meu blog me chamar de pelego, hipócrita, neo-liberal, me acusar de ter "contrato de silêncio com os editores" (de onde você tirou essa idéia maluca, do pacto nazista-soviético de 1939-41? não sabia que você andou estudando a história do glorioso partidão...).

    Pelego, que eu saiba, é um representante sindical que tem acordo oculto com os patrões. Ora, eu sou precisamente o contrário: minhas ligações com algumas editoras são públicas e claríssimas, e eu só represento a mim mesmo. Não te faria mal tentar fazer isso, falar apenas por si, em vez de se esconder no seio de grupos de pressão que, concordo plenamente, não têm nada de coitadinhos, são vitoriosos e estão no poder, mas exploram e alimentam o sentimento de inferioridade e dependência dos desenhistas, para que estes tenham a sensação de que não são nada, fora de tais grupos. Eu gosto mais dos desenhistas do que você: eu quero que os desenhistas cresçam, se desenvolvam como artistas e homens livres, que tenham opinião própria e que sejam fortes sobre os próprios pés. Você prefere que eles se contentem com a existência amorfa de massa-de-manobra, conduzidos bovinamente pela argola do focinho por gente esclarecida como você.

    Isto me desobriga de lhe fornecer as informações pedidas, o que nunca neguei a meus amigos e colegas, até a estranhos, desde que venham com educação e boas intenções.

    Já que se levanta, aproveite para ir embora.
    Como dizem, "a porta da rua é a serventia da casa..."

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  30. Entendi, so' voce pode dizer o que pensa aqui.

    FUI!

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  31. Parabéns!!! Outra coisa, não há vergonha alguma em ser Liberal e Capitalista. Sou contra qualquer lei de incentivo. Que usa dinheiro de todos para financiar preferência de alguns. É imoral que usem meu dinheiro para entregar para quem produz coisas que eu não tenho o mínimo interesse.

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  32. obrigado, Artur.
    entendo o que você quer dizer, e concordo.

    não ao pé da letra, porém: o dinheiro dos meus impostos pode ser usado para ajudar alguém a comprar remédios (de que não preciso, mas apoio a destinação), e para dar suporte logístico a uma passeata de aliados do governo...

    Eu gostaria muito que cada um dos meus livros fosse escolhido - ou recusado - por leitores livres para escolher o que quer que fosse, como eu mesmo não gosto que me imponham. Neste sentido, compartilhamos do mesmo espírito.

    Porém, é bom que você saiba, tenho telhado de vidro:
    Uma parte da minha produção pode entrar em concorrência pública (editais) e ser comprado pelo governo, e distribuído em bibliotecas públicas. Outra parte, as escolas mandam os alunos comprarem para uso em aula. Muitos lêem obrigados. Alguns podem até gostar, mas não escolheram.
    Outros livros são dados de presente - já achei livro meu em sebo com dedicatória, hahaha. O cara ganhou de um parente e já deu ou vendeu pro sebo no dia seguinte...

    Como você vê isso? Aos olhos do liberal puro (ideal), a utilização da verba pública seria uma imoralidade. Mas nenhum capitalista real, de verdade, se negaria a vender mercadorias para o governo, por exemplo, copos plásticos para merenda em escolas públicas (bem, o liberal radical é contra escolas públicas). O problema, e a grande tentação, é que o governo, sendo um grande comprador, como qualquer grande comprador pode monopolizar o mercado, e o mercado monopolizado tende a não ser livre mercado.

    Meus livros atualmente são feitos com essa perspectiva, nem sempre garantida (nenhum negócio é garantido) de compra governamental. Não por que preferimos; mas porque há poucas livrarias no país, as pessoas lêem pouco etc. A compra governamental é um dos canais existentes hoje. É a perspectiva de uma grande tiragem que permite, por exemplo, a edição de um livro-gibi de 96 páginas em couché e 4 cores a cerca de 40 reais. Se tivéssemos em mente a venda exclusivamente em livrarias o livro ou não ia sair, ou custaria 80,00 ou mais.

    Assim, não estou livre da acusação de "receber dinheiro de todos" para fazer meus livros - minha esperança é só que eles sejam uma utilização um pouco melhor do que outras coisas que andam fazendo com o seu dinheiro...

    abraços
    sp

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